Jean Chera apareceu como a maior promessa do Santos quando tinha apenas 13 anos. A expectativa era tanta por parte do clube que nem Neymar possuía o mesmo status na base. De promessa, Chera se tornou grande “mico”. Aos 18, o meia jamais atuou profissionalmente, mas coleciona passagem por quatro clubes, todos sem sucesso. O Atlético-PR foi último deles.
O UOL Esporte consultou ex-treinadores, empresários e outros profissionais que trabalharam direta ou indiretamente com o jovem. Em todos os depoimentos, a mesma queixa: a de que o pai, Celso Chera, prejudicou o desenvolvimento do filho.
O primeiro grande erro de Celso, segundo os entrevistados, foiforçar saída de Chera do Santos após exigir aumento substancial do salário do então adolescente de 16 anos. Chera era a estrela da base, maior inclusive que Neymar.
Hoje comandando o profissional do Santos, Claudinei Oliveira relata a fase em que dirigiu Chera na base.
“O Jean foi meu atleta no sub 15, campeão comigo. A gente via muito potencial nele. Bom passe, bola parada muito boa, e bom chute à distância. Mas na passagem dele para o sub 17 teve um problema com o pai dele. O pai resolveu tirá-lo do clube porque ele não estava sendo muito aproveitado. Mas oscilação é normal. Essa decisão talvez determinou a situação que ele se encontra hoje. Se ele tivesse permanecido, esperado um pouco mais, hoje acredito que estaria no principal”, opinou Claudinei.
Em um jogo da base de Chera no Santos, o pai se revoltou após o filho ir para a reserva e determinou que o garoto fosse embora de campo. Pai e filho deixaram o CT santista antes do término da partida. Pouco depois, o Santos chegou a vetar a entrada de Celso nos jogos.
“O Jean era um menino talentoso e titular. Para você ver: sem o pai, ele ajudava na marcação e fazia tudo certinho. Mas o pai botava na cabeça que o filho era um craque. E o Jean passou a pensar que era”, relembra Flavio Antunes, ex-treinador de Chera no sub-15 do Santos.
O então treinador de Chera no Sub-15 acredita que perdeu o cargo após desafiar Celso. O técnico sacou o menino no 2º tempo de um jogo. Flavio virou auxiliar após passagem da família Chera.
O empresário Ricardo Mendes reforça as críticas a Celso Chera. Mendes intermediou negociações de Chera com o Corinthians, Palmeiras e Genoa.
Houve acerto com o Genoa, mas o acordo durou apenas três meses. O empresário responsabiliza Celso pelo rápido período na Itália e pelos fracassos em contatos com Palmeiras e Corinthians. Segundo Mendes, Celso cancelava pré-acordos ou aumentava pedido após combinar valor, enfurecendo dirigentes.
“O pai arrumou briga com o filho do presidente do Genoa porque queria que o filho jogasse. O passaporte comunitário prometido pelo pai não aparecia. Aí o Genoa juntou tudo, viu que o menino não estava correspondendo também e desistiu do negócio”, disse o empresário.
De volta ao país, Chera acertou contrato com o Flamengo em janeiro 2012. A duração era de três anos. Ele foi pouco aproveitado na base do clube carioca e deixou a Gávea 11 meses depois alegando não ter recebido em dia. Profissionais do Rubro-Negro na época reclamaram da postura do pai e do jogador.
“O Chera é um garoto muito bacana. Sempre tratou a todos muito bem e teve um relacionamento tranquilo com a garotada. O grande problema é o pai dele. Sempre tem alguma reclamação, um questionamento, uma cobrança. Muita gente aqui dentro [Ninho do Urubu] não gosta disso. Pai chato que se mete muito em carreira do filho acaba atrapalhando”, disse um funcionário do departamento de futebol rubro-negro, que trabalha com a base do clube.
Em contato com o UOL Esporte, Celso Chera informou que repassou a procuração do filho ao empresário Juan Figer e, portanto, não responderia assuntos relacionados ao futebol. A reportagem ligou na terça de manhã para o escritório da família Figer, que ficou de dar uma resposta.
Juan Figer tentou, sem sucesso, colocar Chera no São Paulo no começo do ano.
Chera no Atlético-PR
Chera ficou seis meses no Atlético-PR. O jovem não foi utilizado na equipe sub-23, que representou o time no Campeonato Paranaense profissional deste ano.
Recolocado na sub-18 no fim do primeiro semestre, Chera não fez muitas apresentações. O contrato de 6 meses não foi renovado. A assessoria de comunicação do Atlético-PR informou que Chera não teve o rendimento esperado e que o comportamento do pai não esteve em sintonia com o do clube.
* Colaboraram os jornalistas Pedro Ivo Almeida e Samir Carvalho