Podcast “Jogo em Casa” ouve jogadores e dirigentes sobre os problemas causados pela pandemia na formação de atletas; veja a situação de cada clube
A incerteza que a pandemia do coronavírus lançou sobre o futebol é ainda mais forte quando se trata das categorias de base. Afinal, esforços e investimentos estão concentrados em viabilizar a volta das atividades dos times profissionais. A base ficou em segundo plano.
O GloboEsporte.com ouviu todos os clubes da Série A do Campeonato Brasileiro e algumas federações estaduais. E o retrato que se tem é diverso: há quem tenha mantido o financiamento para as categorias de formação, há quem tenha cortado, há quem tenha reduzido.
O Coritiba é caso mais drástico: suspendeu o contrato de todos os funcionários do setor.
As federações estaduais não têm nenhuma ideia de quando será possível voltar a organizar competições de base. Algumas já praticamente desistiram de 2020. A situação desespera clubes e atletas.
– Não há absolutamente nenhuma programação de competição de base pra 2020. Nenhuma competição, para nenhuma categoria. Estamos completamente no escuro quanto a isso – lamenta Júnior Chavare, coordenador das categorias de base do Atlético-MG.
O lateral esquerdo Wellington Damascena, do São Paulo, tem 19 anos. Em depoimento ao podcast “Jogo em Casa”, ele contou que estava “bastante convicto” de que este seria um ano de “conquistas e vitórias”.
– De repente, veio essa pandemia. Pegou a gente desprevenido. Sonhos, conquistas… Infelizmente neste ano já se foram. Agora a gente tem mais esses seis meses para tentar correr atrás – declarou.
A CBF, por enquanto, mantém cautela sobre o assunto. O Campeonato Brasileiro Sub-20 estava programado para começar em junho, mas seu início foi adiado indefinidamente. O Campeonato Brasileiro Sub-17 chegou a ter uma rodada disputada, foi suspenso e ainda não há definição sobre retorno.
A posição da CBF é aguardar a evolução do combate ao vírus para decidir essas datas. A entidade entende que não há aperto no calendário das categorias de base. A CBF afirma ainda que o objetivo é cumprir o que foi previsto para o calendário de 2020.
Confira a seguir como clubes e federações estaduais estão tratando as categorias de base durante a pandemia:
Clubes
Athletico-PR
O clube mantém todos os seus contratados, mas sem atividades presenciais. Os jogadores de todas as idades foram enviados para casa e seguem uma programação diária de atividades online.
Atlético-GO
Durante o mês de abril, os cerca de 100 atletas das categorias de base saíram de férias. Desde que voltaram, em maio, os salários foram mantidos. Todas as categorias têm feito trabalhos virtuais com técnicos, fisiologistas, nutricionistas e psicólogos do clube. O Atlético-GO não tem previsão de disputar torneios nem de voltar a treinar presencialmente.
Atlético-MG
O Galo tem 22 profissionais trabalhando de casa. Eles mantêm conversas frequentes com os jogadores de todas as categorias. Os atletas tiveram férias no começo da pandemia, e desde então recebem orientações por vídeo. Todos têm, de segunda a sexta-feira, pelo menos quatro horas de atividades. O clube reduziu salários e jornada de seus profissionais, mas não fez demissões.
Bahia
Todas as categorias da base do clube, do sub-11 ao sub-20, trabalham com programações semanais que incluem treinos físicos e técnicos com bola, além de aulas sobre conceitos de futebol, tudo de forma online. O clube também coloca os jovens da base em contatos com ídolos históricos do clube. O Bahia manteve os pagamentos de quem ganha até 1,5 salário mínimo, reduziu em 10% de quem ganha até três salários mínimos e em 20% para quem ganha mais de três salários mínimos. O clube manteve a ajuda de custo aos jogadores não-profissionais.
Botafogo
O clube deu férias para as categorias de base no mês de abril, não dispensou jogadores, nem funcionários – e nem cortou salários. O Botafogo mantém contato constante com os pais dos atletas, especialmente dos mais jovens. Todas as categorias receberam programação de treinos em casa. Como não há previsão de retorno das competições de base, não há previsão para volta aos treinos.
Ceará
Embora sem competições, o clube deixou ativo o departamento de base. O clube mantém atividades que podem ser feitas desde casa e usou a Medida Provisória 936, que permite a redução de jornada e salário. O Ceará decidiu não demitir nenhum funcionário enquanto durar a paralisação.
Corinthians
O clube inicialmente havia suspendido a ajuda de custo, mas depois voltou atrás. Os jogadores da base com contrato profissional tiveram corte de 25% no salário e na jornada. Os funcionários sofreram corte de 35%. O clube distribuiu cestas básicas para as famílias mais necessitadas. O Corinthians não pretende desfazer times, mas deve reduzir as comissões técnicas. Os jogadores têm recebido orientações e feito treinamentos por vídeo.
Coritiba
No dia 30 de abril, o clube anunciou a suspensão do contrato de trabalho de todo o seu departamento de categorias de base, “haja vista a indefinição sobre realização das competições”.
Cruzeiro
O clube promoveu a suspensão dos contratos de profissionais das categorias de base, numa manobra para evitar demissões no departamento. A suspensão vai até esta quinta-feira, 25 de junho. O clube entende que a categoria sub-20 é a que está mais próxima de um retorno, pelo menos no Campeonato Mineiro.
Flamengo
Todas as categorias cumprem uma programação de treinos em casa, o que inclui reuniões com ídolos históricos do clube. O departamento de base foi um dos mais afetados com as 62 demissões no final de março. Os funcionários que recebem acima de R$ 4 mil tiveram 25% de corte nos salários (e na jornada), assim como outros departamentos do clube. O Flamengo liberou o volante Matheus Alves e o atacante Wendel para o Leixões, de Portugal, mas manteve parte dos direitos econômicos. Matheuzinho, Ramon, Rodrigo Muniz, Lázaro, João Gomes e Natan foram convocados por Jorge Jesus para treinar no time profissional.
Fluminense
Os jogadores alojados no CT voltaram para casa, e o clube criou uma programação de treinos a distância, com supervisão de técnicos, preparadores físicos, nutricionistas, psicólogos e assistentes sociais. O acompanhamento incluiu os familiares dos atletas. Não houve corte de investimento ou de pessoas das categorias de base do Fluminense.
Fortaleza
Embora sem competições, o Fortaleza mantém ativo o departamento de base. O clube orienta atividades que podem ser feitas de casa e usou a Medida Provisória 936, que permite a redução de jornada e salário. O Fortaleza decidiu não demitir nenhum funcionário enquanto durar a paralisação.
Goiás
Os 105 atletas da base continuam recebendo ajuda de custo e bolsas de estudo, mesmo com as atividades suspensas. O clube aguarda posicionamento da CBF para disputar os torneios nacionais sub-20 e sub-17.
Grêmio
O clube suspendeu contratos de jogadores e funcionários das categorias de base durante o mês de abril. Em alguns casos, houve redução de salário e jornada. Atividades presenciais no CT estão suspensas, e o clube aproveitou para fazer obras de reformulação na estrutura das categorias de base. As áreas de psicologia, fisioterapia e preparação física trabalham de casa, dando o suporte ao que for possível fazer a distância.
Inter
O clube realiza a programação de treinamentos das categorias de base de maneira virtual. Todos os dias, jogadores recebem orientações por vídeo. O clube reduziu o salário e a jornada de trabalho de funcionários das categorias de base. O Inter pretende disputar as competições estaduais e nacionais que a Federação Gaúcha e a CBF organizarem em 2020. Mas, sem programação oficial, não vai voltar aos treinos presenciais.
Santos
Os Santos, que mantém do sub-11 até um time B, não dispensou nenhum jogador ou funcionário da base. Houve corte de salário de quem recebe mais de R$ 6 mil mensais. O clube deu licença remunerada em março e férias em abril para o departamento, que desde maio opera em home office. O Santos planeja o retorno gradativo das atividades, começando pelo time B e indo até as categorias de idade mais baixa.
São Paulo
O clube reduziu salário e jornada dos profissionais de Cotia – 25% no primeiro mês e 50% no segundo. O São Paulo deu férias para todos os funcionários. Diferentemente de outros clubes, continua captando novos atletas. Os jogadores fazem trabalhos online, recebem atendimento psicológico e têm aulas por vídeo. Para entrar no CT da base, em Cotia, há controle de temperatura e uma estação de desinfecção.
Sport
O clube suspendeu as atividades da base no início da paralisação. Depois fez demissões no departamento. O Sport só vai manter parte dos times sub-17 e sub-20 até o fim do ano. Sem perspectiva de participar de competições da CBF ou da Federação Pernambucana, o clube pretende jogar torneios não-oficiais para manter os atletas em atividade, até para avaliar jogadores com potencial de subir ao profissional em 2021.
Vasco
Os atletas de 7 a 20 anos estão trabalhando em suas casas e recebendo material diariamente. Há lives diárias com as comissões técnicas do clube, envio de material elaborado pelo departamento de análise de desempenho. O Vasco demitiu alguns funcionários das categorias de base, mas os cortes não afetaram os atletas.
Federações estaduais
Ceará
Não há previsão de retorno das categorias de base. Mas a federação ainda pretende fazer campeonatos neste ano.
Goiás
Não há previsão de retorno. A Prefeitura de Goiânia não autorizou volta aos treinos das categorias de base, só dos profissionais.
Minas Gerais
Até o momento, não há nenhuma definição. A Federação Mineira de Futebol afirma que todas as competições estão mantidas e serão realizadas assim que a prática esportiva de base for liberada pelas autoridades.
Paraná
Segundo a Federação, nenhuma competição está confirmada e não há previsão de que sejam realizadas neste ano. Tendência é que sejam canceladas.
Pernambuco
Não tem definição sobre competições de base. Segundo o diretor de competições, Murilo Falcão, existe uma grande possibilidade de não serem realizadas em 2020.
Rio Grande do Sul
Intenção é finalizar os estaduais sub-15, sub-17 e sub-20 neste ano.
Rio de Janeiro
A Ferj suspendeu as competições no dia 24 de março, mas ressalta que tem interesse na realização das atividades, desde que com responsabilidade sanitária. A entidade afirma ainda que avalia o calendário para readequação.
São Paulo
A Federação Paulista de Futebol disse que mantém contato constante com os clubes, realizando reuniões com os coordenadores de base e atualizando as informações. Mas não há previsão de início das competições.
Em relação à Copa São Paulo, a FPF diz que “o torneio segue previsto para ser realizado em janeiro de 2021, assim como ocorre anualmente há 51 anos”.
A Federação Bahiana não respondeu aos questionamentos da reportagem.
*Colaboraram Guilherme Macedo, Cahe Mota, Fred Gomes, Elias Roma Neto, Emanuelle Ribeiro, Paula Carvalho, Roberto Azambuja, Guilherme Gonçalves, Rafael Santana, Fernando Araújo, Filipe Rodrigues, Ana Canhedo, Gabriel dos Santos, Fabricio Crepaldi e Marcelo Hazan.
Fonte: globoesporte.com
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