As jogadoras e a comissão técnica do São Francisco do Conde, time baiano de futebol feminino, afirmam ter sido alvos de ofensas por sua origem nordestina em jogo disputado em Araraquara, na terça-feira. A equipe acabou sendo goleada pela Ferroviária, em jogo válido pela Copa do Brasil, 5 a 0. O resultado em campo eliminou o time do interior baiano da competição.
Ao UOL Esporte, o técnico e coordenador do futebol feminino do São Francisco, Mário Augusto e a lateral Norma, disseram que pelo menos 40 torcedores do time de Araraquara proferiram palavras preconceituosas antes, durante e depois da partida.
“Eles falavam que ‘nordestino tinha que sumir do mapa’ que a gente ‘comia ração’ e que ‘nordestino era a vergonha do país’. Foi uma coisa horrível”, relatou Norma, que afirma ter levado cusparada no rosto.
Ofensas que demonstrem preconceito por origem são consideradas crimes, cuja pena varia de 1 a 3 anos, e multa.
Norma conta que levou cusparada no rosto, e uma outra atleta foi atingida no braço. De acordo com a jogadora e técnico, foram arremessados tênis, sandálias e copos em direção às atletas.
O treinador da equipe sofreu corte no nariz, segundo ele em razão de uma pilha vinda da arquibancada onde estava a torcida do Ferroviária. Com receio de que a provocação da torcida pudesse gerar invasão em campo, o técnico do São Francisco acionou a quarta árbitra para que tomasse providência.
Eles [torcedores da Ferroviária] falavam que ‘nordestino tinha que sumir do mapa’, que a gente ‘comia ração’ e que ‘nordestino era a vergonha do país’. Foi uma coisa horrível, relata a lateral Norma, do São Francisco do Conde, time do interior da Bahia.
Dois policiais foram destacados para ficarem próximos ao banco de reservas do São Francisco. Mário Augusto acusa a arbitragem de ter sido conivente em meio aos gritos preconceituosos.
“Nós avisamos a quarta árbitra sobre o comportamento agressivo dos torcedores, mas ela disse apenas ‘não liga, não’, ‘isso é besteira’, ‘deixa para lá'”, disse o técnico.
A súmula do jogo não faz referências a gritos ou menções preconceituosas por parte da torcida da Ferroviária.
A diretoria do São Francisco destaca que não registrou boletim de ocorrência devido à falta de tempo. O elenco tinha voo de retorno à Bahia pouco depois do jogo no interior paulista.
“Confesso que na hora nem pensamos em fazer B.O porque ficamos tão surpresas com essa reação. Nós jogadoras descemos correndo para o vestiário porque pensávamos que seríamos agredidas”, diz a lateral Norma.
“Se ainda tivéssemos ganhado o jogo e provocado alguém, mas perdemos de 5 a 0. Em vez deles comemorarem a classificação, preferiram nos xingar só porque somos nordestinas”, completa.